terça-feira, 25 de março de 2025

 

A Depressão será a doença mais incapacitante do mundo

O Zé perdeu-se!


Era uma vez o Zé! O Zé que fazia rir! O Zé que aparecia!

Era uma vez o Zé! O Zé que fazia! O Zé que prestava atenção!

O Zé que tinha saudades do nada, e do que do nada se fartava!

O Zé que achava tudo, mesmo achando que nada sabia!

O Zé deixou de importar ou de se importar!


Era uma vez o Zé! O Zé que viajava, ainda que muitas vezes quieto e calado!

Era uma vez o Zé! O Zé que escrevia o que olhava!

O Zé que anotava sem apontar!

O Zé que cresceu sem querer morrer!

O Zé que viu e que queria ser visto!


Era uma vez o Zé! O Zé que falava alto para não estar calado!

Era uma vez o Zé! O Zé que exigia e que cumpria!

O Zé que brincava e que depois se aborrecia!

O Zé que tinha coragem, mesmo quando o medo se adiantava!

O Zé que sonhava mas não contava!


O Zé perdeu-se enquanto se tentava encontrar!

Foi-se a gargalhada e permaneceu o silêncio!

Os anos foram-se em pouco tempo!

O Zé foi sem fazer as malas e sem deixar bilhete!

E assim, de uma vez, o Zé deixou de ser e fez-se desaparecer!

quarta-feira, 19 de outubro de 2022



Encruzilhada

Numa destas noites cruzei-me com a arrogância.
Depois de anos desencontrados,
temos tropeçado um no outro com regularidade.
Falamos do mau feitio, do orgulho e da vaidade.
Falamos da família e dos amigos.
Delineamos planos para um futuro incerto,
enquanto fazíamos figas em segredo.
Qual de nós o mais mentiroso!
Rimos  e forçamos lágrimas que secaram
mesmo antes de se formarem.
Em boa verdade, não gosto para onde a conversa nos leva,
mas deixo-me convencer a ficar mais um pouco.
Saudades de mim, das minhas conversas,
dos meus devaneios e das minhas perspectivas.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

 

Luzes ; carreira ; encontrar solução ; sair do escuro ; encontrar saída ;  (Foto: Reprodução/Facebook)

De olhos (bem) fechados


Escondido na escuridão
e abrigado da confusão
autorizo-me a fechar os olhos!

Procuro esqueletos do passado
enquanto recordo memórias futuras.
Bato palmas ao sono
e aponto a locais perdidos.
Converso em segredo
e abrigo-me em Invernos chuvosos.

Com os olhos fechados
lanço pedras à imaginação.
Desenho a silhueta da distração,
escrevo palavras de exaltação
e apago pontos de interrogação.

Com os olhos fechados
aponto à morada dos sonhos
e desço a calçada da realidade.
Sacudo a fadiga
e dispo a responsabilidade.
Dou um jeito na vaidade
e deixo para trás a idade.

E assim me deixo ficar,
no burburinho da solidão.
Onde os olhos fechados
abrem as portas da razão.

domingo, 21 de fevereiro de 2021




Num destes dias, num vaguear de ideias,
encontrei-me perdido no meio das gentes, mas achado na solidão!
Desencontrado de mim! Desencantado de mim!


Já fui para longe, mas para perto voltei!
O tempo que passou a correr é o mesmo que recordo devagar!
Lá longe, continuo a viajar!
Acho que na verdade nunca o deixei de fazer, ainda que o faça por caminhos tortos!
Viajo sem mapa, sem mochila! Viajo sozinho, não me deixo acompanhar!


Já quase não escrevo!
Já pouca gente me lê!
Tenho dificuldades em encontrar as letras para construir palavras que resumam os meus pensamentos!


Somos o como e o porquê!
Somos o onde e o em qualquer lado!
Somos o nunca se sabe e aqueles que deixámos para trás!
Somos os imprevistos e as coincidências!
Somos isto e mais aquilo!
Somos a curiosidade e as dúvidas!
A principio somos tudo isto e no final vai-se a ver e não somos nada!


Não liguem, são apenas conversas de mim para eu! Há muito que não me falava!
Já tinha saudades!


segunda-feira, 1 de abril de 2019

 


Num dia em que o próprio tempo se surpreendeu,
sentei-me comigo num banco de Lisboa! Comecei a falar-me!
Esqueci-me de trazer a imperial, que em muitas conversas me acompanhava!
Fui-me perguntando quando é que me tornei tão chato?
Quando é que fiquei com a cara que todos me devem e ninguém me paga?
O que fiz às ideias, aos propósitos?
Quando é que deixei de apontar o que imagino? De guardar o que importa?
De produzir em vez de vegetar no que já foi feito?


Observo o rio que teima em trazer gentes e em levar corpos cansados!
É um ir e vir constante sem nunca chegar realmente a qualquer lado!
E penso se não será isto que estou a fazer com o tempo!
Acordo, levanto, vou, regresso, deito. E para onde fui? Para onde me levou? Exacto!
Aqui, agora, sentado, a falar comigo mesmo! A pensar!
Bem, vou-me pagar uma imperial que já estou em divida.

quinta-feira, 9 de março de 2017


Assim vai Lisboa hoje


Palavras de viajante, avós a trabalharem, gaivotas artistas,
azulejos vivos, calçadas que já foram portuguesas, arcos da velha,
parafusos fluorescentes, desvios que nos levam a fábulas, elétricos felizes,
escadarias que nos contam histórias, arquivos gastronómicos, silêncios e burburinhos,
bares abertos, obras que nos enchem o olhar, um sol que queima,
janelas abertas para o mundo, lembranças caras mas ainda assim lembranças, cerveja na mão de quem escreve,
música para colher imagens, gente de outros cantos, alguém que nos cumprimenta,
projectos inacabados, fotógrafos do quotidiano, expectativas cobradas,
paisagens com cheiro, um rio que nos olha, um cais que nos recebe ...
pura poesia quando saímos da cama com os olhos abertos!
Porque se há um momento em que não podes ter a mochila às costas, ata-a à cabeça!
E assim vai Lisboa hoje.

domingo, 1 de janeiro de 2017


Conversas do diabo

Não sei se já sentiram que morreram!
Às vezes acontece-me, ainda que tente demonstrar o quanto me agarro à vida.
Quando assim é, faço as malas e embalo os 15kg de recordações a que tenho direito.
Não permitem mais, mas visto-me das lembranças que não me cabem na imaginação.
Tenho os bilhetes comigo com o destino traçado. No check in perguntam-me se tenho preferência pelo lugar!
«Sei que tenho as portas do inferno abertas», respondo, mas prefiro persuadir a segurança para que me deixe entrar no céu. Não porque seja claustrofóbico, mas porque não conheço de todo o lugar.
Também nunca fui ao inferno é certo, mas é um destino batido e toda a gente me fala dele.
Sempre ouvi dizer que existem coisas que não lembram o diabo, e não é minha intenção lembrá-lo!
Quanto ao céu, só me sabem dizer coisas boas, mas vagas. Não sei a língua, o custo de vida, as tradições nem a comida típica. Dizem que é do tamanho do mundo, por isso parece-me um bom sítio para explorar.
Claro que não coloco de parte molhar os pés no inferno, mas não para já!
Há muito que me tornei um espírito inquieto, financiado pela vontade de ir, tendo apenas como contrapartida o incomodo de voltar.
Dito de outra forma, não sou pessoa com muitas saudades do regresso!
As saudades são do ir, quando muitas vezes, ainda me encontro por lá!
Gosto de estar, mas ainda mais de ser. Gosto de viajar pelas recordações e de desenhar as minhas próximas histórias...
«Senhores passageiros, é favor desligar os dispositivos eletrónicos e apertar o cinto de segurança. Estamos prontos para a descolagem»!.